Movimento Negritude

Movimento Negritude

Jamila Pereira | @millie_gp
20 de Maio, 2023

Negritude foi um movimento literário e ideológico liderado por escritores e intelectuais negros nas colónias francesas na África e nas Caraibas na década de 1930. O movimento é marcado pela sua rejeição à colonização europeia e o seu papel na diáspora africana, orgulho da “negritude” e dos valores e cultura tradicionais africanos, misturados com uma corrente de ideais marxistas. Negritude nasceu duma experiência compartilhada de discriminação e opressão e uma tentativa de dissipar estereótipos e criar uma nova consciência negra.

O movimento inspirou-se no Renascimento de Harlem, que exibia um declínio na sua adesão. O Renascimento de Harlem, que também foi chamado de “Novo Renascimento Negro”, promoveu artistas e líderes negros que promoveram um sentimento de orgulho e defesa na comunidade negra e simultaneamente, recusavam submeter-se a injustiças. Mas quando os dias de glória do Renascimento do Harlem chegaram ao fim, muitos intelectuais afro-americanos da época mudaram-se para a França, à procura dum refúgio contra o racismo e a segregação na América.
Nascido em Bissau em Dezembro de 1946, José Carlos Schwarz foi o fundador da música moderna Guineense, o Gumbe. O músico, compositor e poeta é considerado uma lenda decolonial. A sua voz e a sua guitarra denunciaram as dores e o sofrimento da população antes e depois da independência. O seu trabalho demonstra a resiliência, o quotidiano e o intuito de sobrevivência do povo Guineense. 

Contra os desejos do pai e com o suporte do amigo Duko Castro Fernandes, da banda Apaches, juntou-se à luta através da música e literatura. Daí a diante, a sua jornada militante deu asas à “Roda Llivre”, uma banda que tencionava realçar a história, a cultura e o desenvolvimento da Guiné. Obras como “Pérolas Negras” e “Sweet Fenda”, são hoje marcos na história cultural e musical Guineense.  Juntamente com Mamadou Bá, Aliu Bari, Samake e Ernesto Dabo, criaram os Cobiana Djazz, o grupo mais influente na história Guineense. Com tempo, os jovens artistas dominavam instrumentos e o crioulo, para que pudessem compartilhar a sua mensagem e, simultaneamente, estabelecer uma ligação íntima com a população. José levantou o Gumbe das sombras, poliu-o e deu-lhe o estatuto de primeiro gênero musical Guineense. A sua intenção era mobilizar a população e realçar o poder da lingua quotidiana. Exprimindo-se em crioulo, o seu impacto seria maior que qualquer outro acto de resistência. Num instante, Cobiana Djazz chegou ao estrelato como as vozes do povo, numa altura em que a esperança era uma miragem. Canções como “No Kolonia” e “Mindjeres di Panu Pretu” deram a todos uma sensação de união, camaradagem e revolução, especialmente as mães e mulheres guineenses. 
Entre esses artistas estavam Langston Hughes, JamesWeldon Johnson, Richard Wright e Claude McKay, que o poeta e ex-presidente senegalês Léopold Sédar Senghor considerava como o fundador espiritual da Negritude.Os fundadores do movimento (ou Les Trois Pères), Aimé Césaire, Senghor e Léon-Gontran Damas, conheceram-se enquanto estudavam em Paris em 1931 e uniram-se, publicando o primeiro jornal dedicado à Negritude, L’Étudiant noir (O ​​Estudante Negro), em1934. A Negritude foi o movimento da consciência negra, numa afirmação política e cultural.A recuperação da cultura e da história negra; onde quer que a diáspora negra estivesse situada no mundo, os seus apoiantes tinham uma identidade unificadora sob a noção particular de ancestralidade africana.Césaire cunhou o termo “Negritude” no seu “Cahier d’un retour au pays natal”(Caderno de um retorno à terra natal, 1939) e explicava, nas suas palavras, “O simples reconhecimento do fato de que alguém é negro, a aceitação desse fato e de nosso destino como negros, de nossa história e cultura”. Mesmo no seu início, a Negritude foi verdadeiramente um movimento internacional – inspirando-se no florescimento da cultura afro-americana, provocada pelo Renascimento do Harlem, que encontrou um lar no cânoneda literatura francesa.Embora o “Cahier d’un retour au pays natal” de Césaire seja certamente considerado um texto essencial para o movimento, a coleção de poesia de estreia de Damas, Pigments(1937), é até hoje vista e chamada de “manifesto do movimento”. Nele, Damas argumenta contra a escravatura, a segregação, a assimilação colonial e a repressão ou rejeição do eu racial e cultural. Ao contrário dos outros membros do Trois Pères, Senghor defendia a assimilação, mas uma forma de assimilação que permitisse “uma métissage cultural”, ou miscigenação cultural de preto e branco. Enquanto Senghor também promoveu uma redescoberta e celebração de crenças e valores africanos e o estabelecimento de um autêntico eu negro, ele também imaginou uma nova consciência racial na qual uma dupla cultura negra e branca poderia funcionar em direção a um lugar de iluminação mútua, um “rendez du donner et recevoir” (“dar e receber”). Testemunhando-se assim, o impacto político devido às relações futuras entre França e Senegal.

Os simpatizantes do movimento incluíam o filósofo francês Jean-Paul Sartre e Jacques Roumain, fundador do partido comunista haitiano. A negritude também teve os seus detratores, alguns dos quais acusavam o movimento de promover uma forma de exotismo ou fetichização negra, ou de criar outra vertente racista. Sendo, a maior critica uma analise e discordia em relacao aos seus principios individuais. Em resposta, Senghor explicava que Negritude “não é racismo nem autonegação. No entanto, não é apenas afirmação; é o enraizamento em si mesmo e a autoafirmação: a confirmação do próprio ser”.

Contudo, o movimento encontraria um grande crítico no poeta e dramaturgo nigeriano Wole Soyinka que acreditava que o orgulho deliberado e franco da sua colocava os negros continuamente na defensiva, dizendo notavelmente: “Um tigre não proclama sua condição de tigre; ele emerge sobre sua presa.” Ironicamente, Soyinka era conhecido pelo seu “amor” ao inglês e a desvalorização da sua lingua nativa.Consequentemente, Frantz Fanon, de alguma maneira concordava, apoiando que a consciência negra havia sentido as dores da consciência europeia; O nativismo não poderia ser devolvido, o nacionalismo cultural e a identidade não eram suficientes, o humanidade universal e a aceitação teriam sempre que ser avaliados pelo Ocidente.

O movimento em si teve uma ampla gama de influências na arte, colonialismo antropologia, permanecendo um movimento influente durante o resto do século XX e até os dias de hoje. Como movimento, Negritude foi capaz de dar voz aqueles que foram submetidos à colonialidade no mundo moderno e o legado do sistema colonial. Além disso, deu a possibilidade e agência a indivíduos nas Caraíbas e no resto do mundo, restaurando a humanidade pela cultura a um povo marginalizado de que a sociedade rejeitava no seu“clamor”.

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